"Espero alguém que não tenha medo do escândalo, mas tenha medo da
indiferença. Espero alguém que ponha bilhetinhos dentro daqueles livros
que vou ler até o fim. Espero alguém que nunca abandone a conversa
quando não sei mais falar. Espero alguém que, nos jantares entre os
amigos, dispute comigo para contar primeiro como nos conhecemos. Espero
alguém que prove que amar não é contrato, que o amor não termina com
nossos erros. Espero alguém que não se irrite com a minha ansiedade.
Espero alguém que arrume ingressos de teatro de repente, que me
sequestre ao cinema, que cheire meu corpo suado como se ainda fosse
perfume. Espero alguém que não largue as mãos dadas nem para coçar o
rosto. Espero alguém que me olhe demoradamente quando estou distraído,
que me telefone para narrar como foi seu dia. Espero alguém que procure
um espaço acolchoado em meu peito. Espero alguém que leia uma notícia,
veja que haverá um show de minha banda predileta, e corra para me
adiantar por e-mail. Espero alguém que fique me chamando para dormir,
que fique me chamando para despertar, que não precise me chamar para
amar. Espero alguém com uma vocação pela metade, uma frustração antiga,
um desejo de ser algo que não se cumpriu, uma melancolia discreta, para
nunca ser prepotente. Espero alguém que comente sua dor com respeito e
ouça minha dor com interesse. Espero alguém que pinte o muro onde passo,
que não se perturbe com o que as pessoas pensam a nosso respeito.
Espero alguém que vire cínico no desespero e doce na tristeza. Espero
alguém que curta o domingo em casa, acordar tarde e andar de chinelos, e
que me pergunte o tempo antes de olhar para as janelas."
F.C
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