"Não desejo descobrir o que tocaste senão amarei muito mais do que se tivesse tocado.
Não me fale gosto daquilo que já estarei gostando junto. Evite comentários.
Não me diga vamos naquele restaurante que será mais um lugar para te esperar.
Não invente de deitar na grama no domingo que o sol grudará nos dentes.
Não narre aos ouvidos da cama o que podemos sentir.
Não ponha trilha no celular, não troque as almofadas, não escolha as toalhas e os lençóis, controle essa mania de se espalhar por tudo, de botar teu cheiro por dentro de minha boca.
Não abra mais o leite sem romper o lacre, não deixe a gaveta entreaberta, a torneira entreaberta, meu corpo entreaberto. Não reclame do que não fiz, que farei de novo para chamar tua atenção.
Não arrume minha gravata, que me acostumarei a pedir conselhos. Não arrume minha gola que o vento é mesmo enviesado.
Quero te conhecer menos para não sofrer depois tanto tua perda."
(Fabrício Carpinejar)
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