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Sou pedra, flor e espinho...

Folheando os livros românticos, ou de crônicas e auto-ajuda sobre o amor, uma coisa acabei percebendo. Todos tratam o amor numa perspectiva altamente idealizada, como se não houvesse nenhum tipo de contra-posto numa relação a dois. É como imaginar viver a contemplar o sol sem correr o risco de ficar queimado.
Ora, as sereias são o exemplo clássico de que tudo na vida tem um preço. A beleza, no caso delas, é a benção e a maldição para os marinheiros que se deixam enlevar por sua sedução. No caso das rosas, que de tão belas são ao mesmo tempo monstruosas com seus espinhos afiados, não nos permitindo tocá-las com força, apenas com delicadeza.
O amor também possui suas nuances, pode-se dizer que é um sentimento louco e para loucos, que os que gostam de viver riscos, o fazem através de momentos marcantes entre prazer e dor. Ninguém está isento à decepção, seja entre esposo e esposa, pais e filhos e entre namorados. Ora se está do lado de quem é ferido, ora se está do lado de quem fere. Mutuamente somos pétala e espinho.
Não se pode evitar, é como estar num precipício e vendo o chão diminuir ao seu redor, e a escolha a ser feita é: esperar cair, ou se jogar. Não há saída e para aqueles que dizem que não vão se apaixonar, um adágio: "nunca diga: desta água não beberei", um dia será pego de jeito. Uns ficam abobalhados e românticos, outros procuram se segurar na racionalização, porém, no fim das contas, o que nos toma é a irracionalidade do amor. Pergunte a uma mãe do que ela é capaz por um filho? Ou mesmo uma namorada ou namorado, envolvido pelo primeiro amor, do que será capaz para manter ou viver este momento?
Bem que Rita Lee descreveu essa diferença, não apenas no sexo, que para muitos se tornou banalizado, para a maioria é apenas prazer momentâneo e individual, mesmo assim, que prazer! Porém, experimente fazer isso com alguém que se ama? É quase ilimitado, não há como mensurar, extrapola-se os limites e a razão. Na verdade não há razão que explique as razões do amor, já diria Drummond.
Então se ele é tão bom, porque as vezes nos sentimos tão maus em relação ao bem amado? Por que ainda vive-se esse cruzamento constante entre o prazer e a dor de amar, entre feridores e feridos?
Há uma tese que pode começar a esquadrinhar um princípio, geralmente amamos aquilo que odiamos no outro. Parece meio doido, entretanto, na ausência, quando este amor se torna latente e pulsante, vemos nos corredores da mente, no quarto da saudade, as lembranças do ser amado e ao tentar explanar o que se vê, geralmente a pessoa vai começar a descrever as manias e defeitos, pois são justamente estes que nos marcam.
Apaixonamo-nos pelas pessoas, quando seus defeitos veem à tona, pois é justamente nos defeitos que vemos o real ser humano, são os espinhos e não as pétalas que nos fazem permanecer, que faz o conjunto da obra da roseira. Nele, pode-se mensurar a dimensão da ferida que este amor irá causar, nem pense em podá-los, porque sempre virão novos e talvez maiores. O botão é para contemplar e admirar, mas é nos espinhos que encontraremos a convivência. Por isso amar é tão complicado e tão admirável.

Thiago Azevedo, adaptado.
retirado do blog caixinha delicada

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